Sexualidades múltiplas são aquelas que não param de se
diferenciar porque ali, onde um desejo parecia ser definitivo, ele novamente se
diferencia construindo novos repertórios, novos modos de ser e, principalmente,
uma nova batalha.
“Maria Sapatão, sapatão,
sapatão
De dia é Maria, de noite é João”...
Essas sexualidades não querem se deixar capturar pela
estabilidade aparente de um só jeito de ser feminino e masculino. Seus sexos
ultrapassam seus corpos, envergando-se sobre si e formando outro, parindo
outras sexualidades. Algumas têm nome, identidade, por vezes até um gênero
inteligível. Outras um modo queer. O que mais importa é que a sexualidade vai
assim se construindo em meio às lutas- coerções e resistências.
“Olha a cabeleira do Zezé, será
que ele é, será que ele é?”
Estão na pista produzindo
territórios e os desfazendo assim que uma comoção louca zoa lá nos tímpanos
chamando-as para a construção autônoma das normas. Com a navalha na liga cortam
a biopolítica deixando sangrar uma "bio-felicidade” que modifica as
condições das próprias definições.
“Precisou correr
Uma vida pra entender
Que ele era assim
Um comum de dois”
Uma vida pra entender
Que ele era assim
Um comum de dois”
Compreendemo-nos múltiplos, homens ou mulheres em variações
e versões. Pontiagudos. Afiadas. Ousados. Oblíquas até demais.
“E hoje vai sair
Com a melhor lingerie
Não pra afrontar
só quer se divertir
Com a melhor lingerie
Não pra afrontar
só quer se divertir
Mas ele afrontou
Provocou
Assombrou
Incomodou
Provocou
Assombrou
Incomodou
E ele nem ligou”...
Este festival
é nosso. Provocaremos as multiplicidades e, da rigidez ordinária da
Universidade, os armários despejarão paetês, penas, atabaques, trevos e patuás.
Somos baianxs múltiplos e viemos para ficar.
Kiki
Givigi – Coordenadora do Núcleo de Gênero, Diversidade Sexual e Educação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia [UFRB]
Nenhum comentário:
Postar um comentário